Albert Einstein estava certíssimo quando disse que o tempo é relativo. Nenhuma frase exemplificaria melhor esses três meses que, pra mim, pareceram três milênios.
Ashley continuava depressiva. Passava o dia no quarto e, quase sempre, estava chorando. Ela se recusava a reagir; Não ia mais ao trabalho, não atendia telefonemas, não queria ver ninguém, não comia direito e não falava a não ser que algo lhe fosse perguntado e, mesmo assim, eram respostas curtas.
Eu estava cada vez mais preocupado com a situação, afinal, o bebê sente tudo o que mãe sente e, se Ashley estava tão mal, o bebê devia estar também. Pensando nisso, decidi marcar uma consulta médica para ela que, depois de muito relutar, acabou concordando em ir.
Quanto a Demi, bem... Continuávamos juntos, mas ela já estava bem desconfiada dessa minha demora em me separar de Ashley. Apesar de nunca ter perguntado nem cobrado nada, eu sabia que Demi não era burra, ela percebia meu nervosismo toda vez que a conversa tomava esse rumo.
Minha explicação era que Ashley estava passando por um momento difícil e que estava bastante frágil. Receber a notícia de uma separação não era algo que a ajudaria. Demi concordava e até entendia, mas eu sabia que ela não acreditava cem por cento nisso.
Meu medo de perdê-la só crescia a cada dia. Eu estava cada vez mais dependente de Demi, do refúgio que ela havia se tornado pra mim. Quando eu estava com ela, meus problemas sumiam e tudo o que importava era o sorriso nos lábio dela. Ela havia se tornado meu porto seguro, o lugar pra onde eu corria quando estava desesperado por apoio, por carinho, por conforto, por amor...
Ironicamente, ela havia se tornado, não por minha vontade mais por força das circunstâncias, minha amante e pensar nisso fazia eu me sentir um completo canalha. Um filho da puta de marca maior. Mas eu era egoísta demais para deixá-la ir. Eu não tinha a menor ideia de como seria dali pra frente, quando a barriga de Ashley já não pudesse ser escondida e quando minha omissão do fato fosse revelada. Não sabia qual seria a reação de Demi, mas a certeza que, a cada dia que passava, esse momento se aproximava me fazia tremer dos pés a cabeça.
Agora, sentando no sofá da minha sala e fitando o teto branco, meus pensamentos voavam em busca de uma saída. Mas eu estava em um labirinto e quanto mais eu corria, mais eu me via encurralado e perdido. O ranger da escada chamou minha atenção e logo virei meu pescoço para que meus olhos encontrassem a imagem de uma Ashley que eu não reconhecia.
Olhos fundos e com grandes marcas roxas os contornando, o corpo ainda mais magro do que naturalmente era, o rosto exibia uma palidez excessiva e doentia, cabelos bagunçados e sem brilho e vestida com um grande moletom cinza que combinava com as calças de mesmo tecido. Era assustador ver aquilo. A garota que tanto gostei e por quem ainda tinha certo carinho, naquele estado deplorável.
- Oi. – ela disse com a voz fraca. – Eu, hm... Fiquei com fome.
Eu ainda a olhava assustado e tentando me convencer de que aquilo estava acontecendo. Depois de três meses ela estava, finalmente, tentando reagir. Levantei do sofá e caminhei lentamente até ela que não me olhava diretamente nos olhos.
- Isso é bom. – eu disse me aproximando e dando-lhe um beijo no topo da cabeça. – Vamos, vou fazer algo pra você comer.
Fomos até a cozinha e fiz Ashley sentar em um dos bancos que ficavam em frente a bancada de madeira.
- O que você quer comer? – perguntei abrindo a geladeira.
- Hm... Pode ser panquecas com mel? – ela perguntou ainda com a voz baixa a fraca.
- Panquecas saindo... – e disse sorrindo e consegui arrancar um sorriso tímido dela.
Comecei a preparar as panquecas sendo observado por uma Ashley calada e com a expressão distante. Não tentei puxar assunto, deixaria que ela se pronunciasse quando achasse que era a hora certa, quando estivesse confortável pra isso.
- Aqui está. – disse colocando o prato com as panquecas em frente a ela com o pote de mel ao lado.
- Obrigada. – ela disse sorrindo fraco.
Sorri de volta e sentei-me em frente a ela, apenas observando-a comer. Eu estava mais aliviado por ela estar tentando reagir. Tinha quase certeza que ela estava fazendo isso mais pelo bebê do que por ela. Prova disso é que ela estava se esforçando ao máximo para comer o que tinha no prato.
- Desculpa – ela disse baixinho.
- Pelo o que? – eu perguntei, confuso.
- Por esse tempo em que passei... Bem, afundando. Quase que num estado de sono profundo. – ela disse fitando o prato.
- Não é a mim a quem você deve desculpas. – eu disse com a voz calma – Você tem que dizer isso a si mesma.
- Eu quero mudar Joe – ela disse e levantou o olhar pra mim – pelo bebê.
- Isso é bom. – eu disse sorrindo de leve
- Ele não tem culpa de nada e – ela respirou fundo antes de completar a frase – você sempre quis um filho né?!
- É... Sempre. – eu respondi olhando pra baixo.
- Tenho certeza que você será um pai excelente. – ela disse e sorriu pra mim.
- E você será uma mãe incrível. – eu disse e sorri também.
Ashley fez uma careta e negou com a cabeça. Ficamos um tempo em silêncio enquanto ela terminava de comer.
- Prometo que vou me comportar bem agora. – ela disse assim que terminou de comer.
- Ai de você se não se comportar! – eu disse pegando o prato vazio e levando pra pia.
- Eu estou bem acordada agora, Joe. – ela disse rindo brevemente.
- Bom saber. – eu disse virando-me pra ela.
Assim que terminei de lavar o prato ouvi a campainha soar pela casa. Sequei minhas mãos e fui em direção à porta. Ao abri-la, meu coração foi à boca. Parada ali, na minha frente, estava Demi, com um vestido florido, tomara que caia marcando o busto e a cintura, porém deixando seus quadris livres, e um sorriso nos lábios. A visão perfeita, na hora errada.
- Oi Joe! – ela disse feliz.
- Demi... – minha voz saiu falha e tive que limpar a garganta antes de continuar – O que faz aqui?
- Bem, minha mãe anda preocupada com sua noiva e me pediu pra fazer uma visita a ela. – disse dando e ombros.
- Ahn... Ashley está bem. – eu me apressei em dizer – Um pouco indisposta pra receber visitas.
- Não vou demorar muito, prometo. – ela disse fazendo bico e senti uma gota de suor escorrer por minha testa.
- Melhor não Demi... – eu disse tentando manter a calma e não transparecer meu desespero.
- Por quê? O que está acontecendo Joe? – Demi perguntou cerrando os olhos e colocando a mão na cintura.
- Nada é só que...
Mas antes que eu pudesse completar a frase, um grito vindo da cozinha me interrompeu e antes que eu pudesse sequer pensar, eu já me encontrava no cômodo ao lado de Ashley que estava com as mãos no ventre e uma expressão de dor no rosto.
- Joe... – ela disse com a voz chorosa. – Acho que estou perdendo nosso filho.
Antes, porém, que o desespero tomasse conta de mim, uma voz que soou em meus ouvidos fez todo o meu corpo enrijecer e meu mundo desmoronar.
- Filho? – Demi perguntou com a voz fraca.
Fechei os olhos e por um instante desejei estar bem longe dali. De todas as maneiras que eu havia imaginado contar pra Demi sobre a gravidez, aquela, definitivamente, não era uma delas. O grito de Ashley por meu nome me fez despertar do transe. A peguei no colo indo em direção a porta, ao passar por Demi eu apenas sibilei um “Me perdoa” e a última coisa que vi, foram as lágrimas que se formaram naqueles olhos que eu tanto amava.
Ahhhh incrível!!!!
ResponderExcluirEstou chorando... super, hiper curiosa
Postei
ExcluirMeu Deus... a Ashley não pode perder o bebê, e a Demi tem que perdoar o Joe #dilema
ResponderExcluirCalmaaa kkkkk
ExcluirEu sei que vou parecer um monstro falando isso mas, esse bebe nao era a coisa certa agora
ResponderExcluirinfelizmente. :(
Excluir