sexta-feira, 12 de outubro de 2012

9 Meses sem Sexo: Um Problema! - Parte 10 - 3/4

O vestido que combinava perfeitamente com os sapatinhos de Cinderela estava completamente rasgado e sujo. Uma enorme mancha de sangue cobria uma zona do vestido que tapava suas coxas e senti que poderia cair uma bigorna em mim naquele momento, que eu não iria sentir. Fiquei apavorado. Não era pra ela estar chorando, não era para aquele vestido estar destruído e não era pra ela estar sangrando. Era pra ela estar sorrindo maravilhosa em sua fantasia de princesa e era pra ela estar encantada com a surpresa que preparei pra ela. Aquele era pra ser o seu baile. O nosso baile. Era pra ser eu o seu príncipe aquela noite e seria eu a dançar a valsa com ela.


Estava tudo errado. A noite já não parecia tão perfeita como antes, as pequenas luzes brancas já não pareciam encantar tanto o terraço como deveriam e minha fantasia de príncipe parecia não se encaixar naquele conto de fadas. Aquilo parecia mesmo o conto da Cinderela. Mas minha Cinderela deveria estar brilhando nesse momento, não deveria ter-se transformado antes da meia-noite. Está tudo errado. O medo não me largava. E junto dele, estavam a agonia e a raiva de quem pudesse ter feito aquilo. Olhei nos olhos de Demetria. Chorava que nem uma criança indefesa e a dor que ela sentia dentro do peito era visível em cada lágrima que escorria por seu rosto. Era minha pequena ali. Indefesa e com medo do mundo. Vi que seus olhos me olharam e vi seus lábios moverem-se num pedido de desculpas silencioso.

Arranjei forças pra dizer a Melanie que Demi já estava comigo enquanto sentia meus olhos começarem a arder. Eu ia chorar. Não aguentava ver aquele sangue em seu vestido. Não aguentava vê-la machucada. Me machucava também. Deixei o celular cair de qualquer jeito no chão e corri até ela. Em vez de abraçá-la, deixei-me cair de joelhos que nem um condenado e levantei o vestido rasgado desesperadamente. As lágrimas de desespero e agonia já escorriam por meu rosto e eu não iria tentar controlá-las. Aquele sangue não podia vir de dentro dela. Ela não podia perder nosso filho. Não meu filho.

Elevei o tecido até seu ventre e vi o sangue escorrendo por suas coxas. Vi o corte profundo em sua coxa esquerda e beijei a pele lisa ao lado do corte. Deixei que o tecido caísse e escondi meu rosto em sua barriga enquanto a apertava para mim. Ela não parava de chorar um momento sequer e senti suas mãos trémulas acariciando meu cabelo enquanto eu desabava a chorar que nem quando era pequeno. Nunca tive tanto medo de algo em toda a minha vida. Pela primeira vez, eu tive a certeza que as coisas não acontecem apenas aos outros e que podem acontecer a nós também. Aquele sangue podia ser a consequência da perda de um filho. Eu não conseguiria suportar isso.

Demi chorava cada vez mais e eu tentei me acalmar para que pudesse ajudá-la. Beijei seu ventre diversas vezes e falei com meu filho. Eu sabia que ele ainda era pequeno de mais para escutar, mas sabia que de alguma forma ele conseguia sentir tudo o que se passava. Mesmo ele não me escutando, me acalmava falar com ele. Eu sempre contava pra ele os meus planos enquanto Demi dormia. Ele era meu cúmplice e sabia o quanto eu amava sua mãe. Demi começou a sussurrar pedidos de desculpas repetidas vezes e eu neguei enquanto me levantava e a abraçava bem apertado.

Demi: Me desculpa. - sussurrou de novo. Ela soluçava alto em meu pescoço e eu apertava-a cada vez mais contra meu peito.

Joe: Não peça. Vem meu amor. Vou cuidar de você. - peguei-a no colo e levei-a até ao sofá da parte coberta do terraço. Me sentei e deixei-a sentada em minhas pernas ouvindo-a soltar um gemido de dor.

Demi: Me desculpa. - pediu de novo. Eu não entendia o porquê disso. - Eu deixei que ela estraga-se o vestido. Não podia deixá-la machucar nosso filho. Desculpa. Eu não podia. - disse desesperada.

Olhei seu rosto com atenção. Seus olhos vermelhos mostravam seu pânico. Do que ela tinha medo? O que fizeram com minha pequena? Limpei suas lágrimas, beijei sua testa e puxei-a pra deitar em meu ombro. O vestido era a menor das minhas preocupações nesse momento. Fiquei longos minutos ninando-a. Sussurrando palavras de conforto e afagando suas costas. Seus cabelos que deviam estar presos num penteado perfeito, estavam agora meio soltos. Soltei-os por completo e deixei que eles caíssem por suas costas. Ouvi-a gemer baixinho de dor e estranhei, mas deixei pra lá. Tirei seus sapatos e deixei-os no chão, ao nosso lado.

Joe: Calma pequena. Vai dar tudo certo. Quem fez isso com você vai pagar. Se acalma meu bem. Ficar nervosa não vai fazer bem nem pra você, nem para nosso filho. – disse calmamente enquanto beijava sua mão. – Vai ficar tudo bem. Vocês vão ficar bem.

Fiquei mais um tempo abraçado a ela até que se acalmasse. Quando vi que sua respiração estava calma e que seu choro tinha cessado, afastei-a do meu peito para conseguir despir o casaco e coloca-lo sobre seus ombros frágeis. Demi olhou cada movimento meu sem dizer uma palavra e eu vi-a em seus olhos o quão triste ela estava. Eu tinha que a fazer sorrir. Mas antes disso, tinha que saber o que tinha acontecido.

Joe: Está mais calma? – perguntei acariciando sua bochecha. Demi assentiu e aproximou-se para me dar um beijo. Retribui na hora. Ela precisava daquilo e eu também. Foi um simples encostar de lábios, mas foi o suficiente para sentir um arrepio na espinha como sempre acontecia quando estava com ela.

Demi: Me desculpa ter estragado a sua surpresa. Estava tudo indo bem. – suspirou acariciando meu rosto.

Joe: Me fala o que houve. – pedi pousando minha mão sobre seu ventre e começando a fazer carinho.

Demi: Você com certeza já deve saber que eu fui no shopping com as meninas esta tarde já que foi tudo um plano seu. – falou e eu assenti. – Então a gente comprou umas roupas e depois eu voltei pra casa. Encontrei esse vestido maravilhoso – falou olhando o vestido. – e os sapatinhos de Cinderela junto com a flor de pulso e um bilhete de entrada para o baile. Vi seu bilhete e fiz tudo como estava lá escrito. Me arrumei e esperei o carro que me iria buscar. Quando cheguei aqui no colégio fui diretamente para ginásio onde está ocorrendo o baile e fui logo procurar por Nicholas. Quando o encontrei ele deu a entender que você estaria aqui e eu vim. Quando estava passando pelo grande corredor em caminho à saída, encontrei a Ashley. – bastou ela dizer o nome da vaca para eu soltar uma praga. Já até imaginava o que tinha acontecido.

Joe: O que ela fez?

Demi: Ela começou a zuar comigo e tentou bloquear meu caminho, mas eu ignorei-a e tentei seguir até aqui. Eu só queria estar logo com você. – falou sorrindo de canto enquanto olhava em meus olhos. – Mas quando eu estava perto de sair de lá ela veio atrás de mim e puxou meu cabelo para que eu a escutasse. Ashley começou a falar sobre nosso filho e eu me assustei. Não era para ela saber disso. Ela me disse que Denise lhe tinha contado e que ela não ia desistir enquanto não ficasse com você. Disse que eu tinha que tirar esse coisa de mim pra ela puder ficar com você. Eu retruquei dizendo que ela nunca tocaria nosso filho e que você me amava a mim e não a ela. – fez uma pausa para controlar as lágrimas e eu acariciei seu rosto suavemente enquanto sorria pra ela.

Joe: E você tem razão. Eu te amo. – afirmei enquanto ela sorria forçosamente.

Demi: Ashley ficou furiosa com o que eu disse e eu me assustei com o que vi em seus olhos. Ela parecia uma louca psicopata. Eu tentei sair de lá, mas ela foi mais rápida e me puxou para dentro de uma sala, nos fechando lá sem acender a luz. Depois disso, disse que se eu não abortasse de livre vontade ela mesma o faria. Eu fiquei com medo e comecei a me afastar dela enquanto arrastava mesas e cadeiras para que ficasse entre a gente como obstáculo. Ela riu de minha atitude e disse que eu não conseguiria fugir dela. – falou voltando a chorar. Eu estava cada vez mais assustado. Era pior do que eu suponha. – Ela ficou vários minutos tentando me pegar até que conseguiu e me jogou no chão com toda a força. Eu caí de joelhos e vi-a pisar no vestido que já tinha rasgado um pouco em baixo. Tentei me afastar dela, mas ela me pegou pelos cabelos e me arrastou até à mesa do professor.

Joe: Por isso você gemeu de dor quando soltei seus cabelos. – falei levando uma mão em sua nuca e massageando levemente. Demi fez uma careta mas logo a desfez, apreciando a massagem que eu aplicava nela.

Demi: Ela me bateu na cara e tentou acertar minha barriga diversas vezes, mas eu sempre consegui defender. Ela queria mesmo matar nosso filho. – suas lágrimas caíram silenciosas e eu beijei cada uma delas. – Eu me cortei na perna porque foi a única maneira de evitar que ela chutasse meu ventre. Quando finalmente consegui ficar de pé e deixa-la no chão gemendo de dor, corri para a porta e saí correndo para aqui. Eu sabia que você estava aqui e sabia que ela não nos encontraria. Eu tive tanto medo. Tanto medo. – falou olhando as mãos e voltando a chorar ainda mais.

Abracei-a bem forte e deixei que ela chorasse tudo o que tinha para chorar. Me sentia um inútil por não me ter lembrado de que Ashley ainda podia fazer alguma coisa. Eu queria que Demi ficasse bem. Ela viveu uma cena de filme de terror, mas fez tudo para salvar nosso filho. Sorri pensando em como ela vai ser uma boa mãe, mas meu sorriso logo desapareceu ao me lembrar que mais uma vez Denise estava envolvida. Ela ia pagar junto com Ashley. As duas iam pagar bem caro por tentarem acabar com minha vida. Mas agora eu só tinha que cuidar de Demi. Nesse momento ela era tudo o que me importava.

Joe: Já passou meu amor. Não chora. – pedi abraçando-a. Demi enroscava-se em mim como uma criança. Ela ainda estava com medo do que acontecera. – Me deixa cuidar de você princesa. Me deixa fazer você esquecer tudo o que aconteceu. Não quero que você tenha mais medo. Está comigo agora. Está segura.

Demi: Estar em seus braços faz-me sentir segura. – disse se afastando e me encarando. – Tenho que agradecer às meninas por me terem feito usar maquiagem à prova de água. – disse me fazendo rir.

Joe: Continua perfeita de qualquer jeito. Agora vamos cuidar desse machucado com o que se puder arranjar aqui. Vem, deita nesse sofá e levanta o vestido. – pedi beijando sua testa.

Demi levantou-se cuidadosamente e eu me levantei enquanto a ajudava a deitar. Seu corte devia estar doendo bastante agora. Procurei algo que pudesse pelo menos ajudar a estancar o sangue que escorria por sua coxa e encontrei lá uma das toalhas que a gente tinha deixado. Demi sussurrou meu nome e quando olhei pra ela, vi-a sentada encarando tudo à sua volta. Seus olhos brilhavam encantados e a tristeza que antes havia neles, pareceu ter desaparecido. Ela estava fascinada pela remodelação do local.

Demi: Você fez isso? – perguntou surpresa. Peguei na toalha e molhei com um pouco da água que tinha levado junto das outras coisas. Me aproximei dela com um sorriso tímido e me ajoelhei no chão. Levantei o vestido dela e comecei a limpar o sangue que já começava a secar.

Joe: Você disse que sempre gostou desse lugar. Então tive a ideia de fazer um baile só para nós dois aqui em cima. Você merece seu baile de princesa e merece sua valsa. Eu queria fazer algo que você nunca fosse esquecer. Algo para ser lembrado. Então fui até ao diretor e falei desse lugar. Pedi para que ele me deixasse fazer o planeado e ele deixou com a condição de que remodelasse o espaço. Chamei os garotos e as garotas e eles me ajudaram a pintar e concertar tudo. Pude contar com o clube de jardinagem da escola para colocar esse mini jardim aqui e no fim ficou isso. É claro que a comida, musica e as luzes decorando foram ideia minha, mas tive bastante ajuda.

Demi: Ficou tudo perfeito. – disse sorrindo. – Me desculpa ter estragado sua surpresa. Você está lindo vestido de príncipe. Só não sabia que os príncipes usavam smoking.

Joe: Príncipes modernos não usam armaduras princesa. – falei divertido enquanto beijava sua coxa e puxava minha camisa branca pra fora da calça. Rasguei um bom pedaço e enrolei em sua coxa tapando o corte. – E não tem que se desculpar por nada. Não quero que pense mais nisso esta noite, nem nunca mais. Já está tudo bem e você não estragou a surpresa. Você está aqui e a noite ainda só começou. O baile lá em baixo vai até às cinco horas da manhã, mas o nosso baile – falei destacando a palavra ‘nosso’ e puxando pela mão para fazê-la levantar. – pode ir até à eternidade se você quiser.

Demi: Meu príncipe dança? – perguntou sorrindo e se pondo em pontas dos pés para chegar até meus lábios. Era minha Demi. Eu tinha-a feito sorrir e tinha ganho minha noite com aquele sorriso.

Joe: Danço melhor que o vento só para te ter em meus braços. – disse baixinho enquanto trazia seu rosto para perto do meu. – Minha Cinderela. – sussurrei roçando meus lábios com os dela.

Demi sorriu e vi seus olhos brilharem. Puxei-a para um beijo cheio de amor e embalei-a em meus braços. Era tudo o que a gente precisava naquela noite. Um do outro. Quando nossos lábios se separaram, senti-a afastar-se e logo abri os olhos pra ver o que ela faria. Demi tirou meu casaco que estava sobre seus ombros e colocou-o sobre o sofá.

Demi: Não sei porque me chama de Cinderela, mas eu não posso ser Cinderela sem meus sapatos de cristal. – disse divertida enquanto calçava os sapatinhos que lhe tinha tirado pouco tempo atrás.

Joe: Eu chamo você de Cinderela porque nossa história é parecida com a dela. Numa versão mais moderna.

Demi: Me conte essa história. – pediu voltando até mim. Estendi a mão pra ela e ela envolveu-a com a dela rapidamente.

Joe: Eu sou o príncipe. Enquanto o príncipe da história tradicional precisava de uma mulher para casar, eu precisava de uma mulher para aprender a amar. Você é a Cinderela porque apareceu para mim. Eu via você como uma gata borralheira e depois se transformou numa linda princesa. Mesmo não querendo admitir, depois que nos tornámos um só pela primeira vez eu sabia que teria que ter você pra mim. Apesar de você ter a beleza da Branca de Neve, sua vida meio que encaixa com a de Cinderela. E hoje mais ainda. Mas sua fada-madrinha deve ter tido um problema com o cronómetro dela porque você se transformou antes da meia-noite. Agora ela é obrigada a dar o resto da nossa vida pra gente. – disse sorrindo satisfeito pelas metáforas que usara. Eu sabia ser fofo.

Demi: Eu te amo meu príncipe. – disse sorrindo.

Joe: Te amo mais minha Cinderela. – falei beijando-a em seguida.

(…)

Joe: Já sei porque você gosta tanto desse lugar. – disse enquanto a abraçava por trás e observava a cidade à nossa frente.

Demi: Porquê?

Joe: Por que é bem alto. Fica mais perto do céu.

Demi: Eu tenho medo de altura Joseph. – disse rindo. Ri com ela mas neguei com a cabeça.

Joe: Não é isso que eu quero dizer. – segurei o pulso delicado que ela tinha e beijei a pulseira de minha família que ela tinha escolhido usar naquela noite. – Lembra do porquê deste anjo para representar nossa história?

Demi: Claro que lembro. Você disse que eu era um anjo pra você e que por isso tinha escolhido esse pingente.

Joe: Exatamente. É por isso Demetria. Você disse que este lugar te dava paz. Que te fazia sentir tranquila. Mesmo você não acreditando, você é meu anjo. E gosta deste local porque ele é um dos lugares mais altos desta cidade. Fica mais perto do céu. Onde todos os anjos moram. - vi-a olhar pra mim e em seguida olhar para o céu estrelado. Sorriu e olhou pra mim de novo.

Demi: Gosto de suas teorias Jonas. – falou me dando um selinho. – Por incrível que pareça, faz sentido.

Joe: Tudo entre nós dois faz sentido Demi. O nosso amor faz isso com a gente. – disse fofo em seu ouvido. Apertei-a mais contra meu peito e vi-a fechar os olhos enquanto eu dizia em seu pescoço. – Me da a honra desta valsa minha Cinderela?


Continua...

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