quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Capítulo 5 – You’re Strange


Depois que Demi foi embora, fiquei tentando me recompor... Eu precisava de um banho gelado. Passei horas debaixo do chuveiro tentando me livrar da sensação dela em mim. Em vão. Parecia que ela estava impregnada em meu corpo e, por mais que quisesse, ela não saia de mim.


Quando, finalmente, me conformei com o fato de que ela não sairia de mim tão cedo, desliguei o chuveiro e enrolei a toalha na cintura. Ao sair do banheiro, instintivamente  olhei para a janela da sacada. A luz do quarto dela estava acesa. Eu devo ser algum tipo de maníaco masoquista, mas não consegui resisti e me aproximei da sacada.

A cortina estava fechada, mas eu conseguia ver o contorno do corpo da garota em uma sombra projetada no tecido. Ela estava, aparentemente, de toalha e escolhendo uma roupa no armário. Eu era um doente. Isso pode ser considerado pedofilia? Meu Deus, o que eu estava fazendo?

Balancei a cabeça e sai da sacada, fechando-a em seguida. Fui até a gaveta do armário e escolhi uma boxer preta e vesti. Deitei na cama e, assim que fechei os olhos, a imagem dela voltou a minha mente. Como essa garota conseguia me perturbar assim?

Quero dizer, eu tinha a Ashley. Tá certo que ela não era nenhuma maravilha na cama, mas até que eu não podia reclamar. Ashley nunca fez o estilo fogosa, nem quando eu a conheci no inicio da faculdade. Comecei a namora-la, pura e simplesmente por ela ser a garota mais cobiçada da faculdade. Quando vi, já estávamos noivos e planejando nosso futuro.

Fui despertado dos meus pensamentos quando ouvi barulho de chave no andar de baixo. Ashley estava chegando. Logo ouvi passos subirem as escadas e minha noiva abriu a porta do quarto. Assim que a vi entrar, algo em meu peito se apertou, minha garganta criou um nó e meu estômago embrulhou: Culpa! Estava sendo tomado pela culpa por tudo o que estava fazendo com Ashley. Eu não a merecia, eu era um canalha filho da puta que não a merecia.

- Oi amor – ela disse jogando suas coisas em cima da poltrona do quarto.
- Oi – eu respondi me sentando na cama – demorou...
- Pois é... Muito trabalho acumulado – ela disse tirando os sapatos e caminhando em direção ao banheiro.

Eu precisava dela, ou então ia enlouquecer. Precisava livrar-me da sensação de Demi em mim ao mesmo tempo em que, de alguma forma, me redimia por meus atos levianos inconsequentes.  Levantei da cama e a agarrei pela cintura antes que ela entrasse no banheiro. Comecei a beijar o pescoço dela e Ashley pareceu relutar até, finalmente, se desvencilhar dos meus braços. Encarei minha noiva sem entender nada.

- O que foi? – eu perguntei confuso.
- Eu preciso de um banho querido. – ela disse sorrindo docemente.
- Eu posso tomar outro banho – eu disse indo até ela novamente e voltando a beijar seu pescoço.
- Joe, é sério... – ela disse me empurrando pelo peito – eu tô cansada, foi um longo dia de trabalho, por favor... Hoje não.
- Porra Ashley – eu disse perdendo a paciência com ela – é sempre assim! Você sempre está cansada... Cacete, eu também trabalhei pra burro hoje sabia?
- Eu não sou uma máquina do sexo Joe! – ela disse gritando também.
- Eu não quero uma máquina do sexo! – eu disse já totalmente enfurecido – Quero apenas minha noiva!

Virei com raiva e abri o armário em busca de uma roupa qualquer, precisava sair dali antes que fizesse uma besteira.

- Vai aonde? – ela perguntou ainda parada no mesmo lugar.
- Não sei – respondi sem olhá-la – talvez eu vá atrás do que não tenho em casa.

Sai do quarto sem ver a cara que ela fez, mas podia apostar todo o meu salário, que era algo próximo à psicopatia. Qual é? A culpa não era minha se ela não estava cumprindo sua parte no relacionamento. Não que eu, realmente, pretendesse ir atrás de sexo na rua, mas ela não precisava saber disso. Não agora, pelo menos.

Assim que saí de casa, virei o rosto em direção à casa dos Lovato, movido por um cruel e doentio instinto. Cerrei meus olhos forçando a vista pra ter certeza do que eu via. É, eu não estava ficando louco, Demetria estava lá, sentada nos degraus em frente à casa dela, com os fones no ouvido e olhando para rua, com o pensamento distante. Algo me dizia que o destino estava ‘tirando uma’ com a minha cara!

Andei devagar até ficar em frente a casa dela, ainda na calçada. Demetria me viu e sorriu amigavelmente, deu leves batidinhas no espaço vazio ao seu lado, em um convite mudo para que me aproximasse e assim o fiz.

- Oi – eu disse sentando-me ao lado dela.
- Oi vizinho – ela respondeu tirando os fones do ouvido.
- O que faz aqui fora? – perguntei virando o rosto pra ela.
- Pensando... – ela respondeu – E você?
- Esfriando a cabeça – eu disse voltando o olhar para a rua
- Problemas com a noiva? – ela perguntou mexendo no IPod em suas mãos.
- Como você sabe? – perguntei erguendo a sobrancelha e voltando a olhá-la.
- Deduzi – ela respondeu dando de ombros.

Eu ri sem humor e abaixei a cabeça negando levemente. Ficamos em silêncio por um tempo, até Demi quebrar o silêncio.

- É por isso que não gosto de relacionamentos sérios – ela disse sem levantar os olhos do IPod – só trazem problemas.
- E o que você sabe de relacionamentos sérios? – perguntei em tom de deboche – Você é praticamente uma criança.
- Primeiro: eu não sou criança e você bem sabe disso – ela disse com um olhar malicioso me fazendo ficar meio sem graça – Segundo: eu sei bem mais do que você imagina sobre relacionamentos.
- Ah é?! – perguntei rindo – E quantos namorados você teve nesses longos 17 anos de vida?
- Um só – ela respondeu dando de ombros – Mas acredite, foi o suficiente pra eu não querer isso nunca mais na minha vida!
- Hm, e o que ele fez? – eu perguntei ainda debochando – Te deixou pra ficar com uma garota de torcida?
- Antes fosse – ela riu – Seria menos traumático.
- Tá, agora eu fiquei curioso – eu disse e apoiei os cotovelos nos joelhos cruzando minhas mãos – Quer falar sobre isso?
- Nossa! Você pareceu meu psicólogo agora – ela disse e riu brevemente.
- Pera... – eu disse fazendo um sinal com a mão – Você faz sessões com um psicólogo?
- Eu disse que foi traumático. – ela disse e abaixou a cabeça – Ainda quer ouvir?
- Se ainda estiver disposta a contar... – eu disse com a voz mais serena.

Ela fez um breve momento de silêncio e respirou fundo, como se travasse uma batalha interna com ela mesma. Algo me dizia que, o quer que fosse, era sério.

- Ele era o cara mais cobiçado do colégio – ela começou a dizer olhando para a rua – e eu me sentia sortuda por ter sido a “escolhida” – ela fez aspas com as mãos na última palavra – Como eu era estúpida!

Demi soltou uma risada nasalada e olhou pra baixo. Fiquei em silêncio esperando que ela continuasse.

- Tudo foi absolutamente perfeito no início – ela continuou – ele me tratava como uma princesa sabe? Mas isso só durou até mais ou menos o terceiro mês de namoro.

Ela fez mais um momento de silêncio e eu sentia a curiosidade crescer cada vez mais dentro de mim. Estava me sentindo nervoso por dentro.

- Um dia, durante uma festa de um amigo dele – ela falava com o olhar perdido – Ele bebeu demais e eu fiquei preocupada. Alguns amigos me convenceram de que subir com ele para um quarto era melhor pra que ele parasse de beber. Meu Deus, como eu era idiota! – ela disse batendo na testa e suspirando alto antes de continuar – Assim que entramos no quarto, ele começou a me agarrar e eu não tinha forças pra lutar com ele. Eu gritava, mas a música era mais alta. Ninguém me ouviu!

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Demi e, pela primeira vez, eu pude ver fragilidade nos olhos dela. E mais uma vez a vi como uma menina, que precisava de cuidados. Demi precisava de alguém que a confortasse e que a protegesse. Naquele instante eu me senti tentado a assumir esse papel.

- Ele conseguiu o que queria – ela disse secando as lágrimas e eu senti um nó se formar em minha garganta – Ele não tirou só minha virgindade naquela noite, ele levou junto a garota que eu era.
- Demetria, você ouviu o que disse? – eu perguntei incrédulo – Esse cara estuprou você!

Ela apenas me encarou com uma expressão de dor, como se não tivesse gostado de ouvir a minha última frase.

- Seus pais sabem? Você foi a polícia? Esse cara tem que ser preso. – eu comecei a falar rápido.
- Calma Joe! – ela disse pegando de leve em meu braço – Sim, meus pais sabem, por isso faço sessões com psicólogo. Nós fomos até a polícia, mas o pai dele é muito rico e acabou não dando em nada. Depois de uma semana ele mudou de cidade.
- Sorte dele! – eu disse bufando – Se ele ainda estivesse por aqui, eu ia adorar encontra-lo com meu ‘soco inglês’*.

Demi soltou uma gargalhada alta e eu a encarei incrédulo. Por que diabos ela estava gargalhando? Ela não tinha noção do quão sério era o assunto?

- Por que você está rindo? – perguntei sério.
- Desculpa, mas foi inevitável – ela disse tentando se controlar – É que bem, você não faz o tipo que anda por aí com um ‘soco inglês’ no bolso sabe?

Minha vez de rir. Ela tinha razão, eu não era desse tipo.

- É tenho que confessar – eu disse ainda rindo – eu não tenho um ‘soco inglês’.
- Eu sabia! – ela disse gargalhando ainda mais.

E assim, sem notar, a conversa tomou outro rumo. Não que eu tivesse esquecido o que ela tinha me contado a pouco, mas se ela não quis continuar no assunto, quem era eu pra insistir? Falamos sobre gangues, filmes de mafiosos e terminamos falando sobre o Leonardo DiCaprio. Quando olhei o relógio me assustei. Eram quatro horas da madrugada!

- Nossa! Tá muito tarde. – eu disse levantando.
- Ou muito cedo, depende do ponto de vista – ela disse também se levantando.
- No ponto de vista de quem tem que trabalhar daqui a pouco e ainda não dormiu, está muito tarde! – eu disse rindo.
- Certo – ela disse rindo e abaixando a cabeça com as mãos pra trás, essa, com certeza, era a pose mais inocentemente sexy que eu já tinha visto.
- Hm, obrigado pela conversa – eu disse coçando a nuca.
- Imagina – ela disse sorrindo – Obrigada por me ouvir também.
- Disponha – eu disse e acenei brevemente com a mão, em seguida comecei a caminhar em direção a rua.
- Joe! – ela me chamou.

Assim que me virei, Demi correu em minha direção e pulou em meu colo. Logo demos início a um beijo profundo. Minhas mãos seguravam firmemente a cintura dela enquanto as mãos de Demi se prendiam nos meus cabelos. Eu não podia estar fazendo isso. Ashley não merecia isso. Porque toda a culpa que senti algumas horas atrás não me fazia parar aquilo? Porque com ela ali nos meus braços tudo parecia tão certo?  Separamos o beijo quando já nos faltava ar. Demi permaneceu de olhos fechados, depois sorriu e se afastou.

- Boa noite vizinho. – ela disse sorrindo e caminhando até a porta da sua casa.

Eu fiquei em estado de choque por alguns momentos e quando recobrei a consciência, comecei a caminhar de volta a minha casa. Entrei em casa e subi para o quarto e, assim que entrei, Ashley, que estava deitada, sentou-se na cama. Ela estava com os olhos vermelhos e inchados.

- Onde você estava? – ela perguntou com a voz fraca.
- Pensando por aí – disse enquanto tirava minhas roupas e meu tênis, indo deitar.
- Joe, sobre hoje mais cedo... – ela começou, mas eu não deixei que terminasse.
- Agora não Ashley – eu disse virando-me de costas pra ela, já na cama – eu, realmente, preciso dormir.

Ashley demorou alguns segundos até deitar-se novamente e quando o fez, começou a fungar baixinho. Estranhamente, não senti vontade de abraça-la e de dizer que estava tudo bem, como havia sentido com Demi há algumas horas atrás... E lá foram meus pensamentos até ela.

Naquela noite, Demi havia me mostrado que idade é apenas um estado de espírito, pois ela com apenas 17 anos, tinha muito mais a contar do que eu, com meus 25 anos de vida. Absorto em pensamentos, fechei os olhos e deixei que o sono viesse. Adormeci sentindo o gosto dela em meus lábios.


Continua...

4 comentários:

  1. Não sei se fico feliz com o Joe por estar sendo tão compreensivo com a Demi ou triste por ele trair a Ashley que parece ser tão trabalhadora e fiel. Nass... Situação complicada. Mas continua sendo ótimo!

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  2. Legal o Joe narrar nessa fic, nas que costumo ler sempre é a Demi.
    Estou esperando o próximo capitulo.
    Acabei d começar uma nova fic, comece a ler e se gostar comente...

    Bjokas

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    1. Verdade, sempre vejo fics narradas pela Demi ou sempre em torno dela. Bom ter uma coisa diferente pra variar.

      Vou ler sim linda.

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