Querido Diário - Parte 4

O RASTREADOR

Charlie...

É muito estranho pensar isso. É tudo muito estranho. Porque ela não me procuraria se estivesse viva?

Ela era a minha melhor amiga e eu a dela, porque ela não me procuraria?

Essa ideia me perturba, me perturba mais do que qualquer coisa.

Hoje é domingo e meu pai sempre faz alguma coisa especial. Hoje ele disse que iria fazer um churrasco, mas desistiu. Minha mãe disse que iria ficar em casa e ele saiu para outro lugar. Ele ainda não tem um local fixo para morar, então dorme no quarto de hospedes e quase não troca palavras com a minha mãe, as poucas vezes que isso acontece são apenas para se ofenderem e olhe lá.

Joseph me convidou para almoçar na sua casa e eu com certeza aceitei. Prefiro ficar longe de casa agora, não aguento nem ver a cara da minha mãe.

Sem contar a minha avó que veio aqui essa semana, que velha irritante, ridícula e sórdida. Passou o dia inteiro me ofendendo e falando coisas sobre meu pai, ela adora criticar tudo que nós fazemos.

Finalmente arranjei alguém que converse abertamente comigo. Joseph é paciente, sabe escutar, gosta de falar, me dá conselhos e vice-versa. Estou mais apaixonada do que nunca, e não pensei que isso pudesse acontecer tão rápido. Mas não deixo isso transparecer, não quero estragar o que temos, não sei se ele me considera uma amiga, esses dias tem sido até legais de passar com ele e eu não quero estragar isso. Sei que ele leu no tal blog sobre o que havia escrito no meu diário, mas eu disse que é passado e que aquilo foi ilusão da minha cabeça.

Depois do almoço na sua casa, onde eu conheci seus pais, nós passamos o dia inteiro no seu quarto bolando algum plano novo pra tentar descobrir um modo de terminar com essa coisa que me atormenta dia e noite.

—  Essa vaca postou alguma coisa? — Perguntei a Joseph que estava usando seu computador.

— Postou.

— Ai, deixa eu ver isso.

19 de julho de 2012 

Querido Diário... 

Hoje a noite estava voltando de um café no centro da cidade quando vi minha mãe com outro cara. Eles estavam se abraçando e ele deu um beijo no rosto dela. Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas parece que algo a mais rolava ali. Não contei nada ao meu pai ou comentei com a minha mãe. Talvez eu tenha visto errado, não quero me precipitar antes da hora...

Havia ainda um PS

PS: E eu pensando que a vida dela era sem graça. Papai corno, que coisa feia mamãe.

—  Ridículo. — Me levantei e voltei a me deitar na cama de Joseph.

— Nem liga pra isso.

— É fácil falar.

"Vem cá, uma vez eu vi, não sei se é real. Mas eu vi em um filme de ação onde eles tentavam descobrir um negocio na internet e colocaram tipo um programa, alguma coisa que avisava quando o computador fosse usado. Tipo um dispositivo que acionava quando uma pessoa entrava em um tal site. Será que é possível você fazer isso?"

— Acho que sim.

— Então podíamos voltar amanhã e você coloca essa coisa lá.

— Boa ideia, mas eu tenho que ver como isso funciona, ai a gente pode ir lá amanhã mesmo.

— Aaah, perfeito.

Acordei no dia seguinte muito exaltada, estava ansiosa para pegar essa retardada.

Acabei de chegar a escola, ainda não me acostumei com isso, vou direto para minha sala, a primeira aula é de matemática e infelizmente Joseph não faz essa matéria comigo.

Passei pelo corredor e fui em direção ao meu armário pegar meu livro. Está tudo uma bagunça aqui e eu sinceramente quero ir embora. Mas infelizmente não posso.

Senti alguém me cutucar e virei-me, Joseph estava ali, lindo como sempre.

— Bom dia.

— Bom dia.

— Tenho uma novidade, consegui e sei como fazer aquilo que falamos ontem.

— Sério? — Aaah, ele conseguiu. Que alivio.

— Sério, vamos hoje mesmo, passo na sua casa que horas?

— Duas horas ta bom pra mim.

— Tudo bem, até daqui a pouco. — Ele me deu um beijo no rosto e saiu.

Depois disso o povo com certeza achou que eu e ele tínhamos alguma coisa. Andam lendo muita bobagem na internet.

Meu dia na escola foi totalmente chato, irritante, cansativo e desnecessário. Agradeci por estar voltando logo pra casa. Cheguei e lá não havia ninguém.

Tive que dar um jeito no meu quarto, arrumar a casa e ainda lavar a louça. Fiz um lanche rápido e me arrumei, estava agora esperando por ele.

Espero que consigamos isso, quero muito descobrir quem é essa garota e se é a Charlie, sinceramente torço para que isso seja mentira, não quero chegar e encontrar ela ali, na minha frente. Não mesmo, acho que seria um choque.

Mas eu ainda estou pensando e me perguntando o porque?

Se for ela, porque isso, pra que fazer isso comigo? Eu sempre fui prestativa e uma amiga que ela sempre pode contar. Por qual motivo ela faria isso?

~Flashback~

— Um diário?

— É Charlie, um diário, mas não é um só, tenho mais três. Escrevo tudo neles, tudo mesmo e guardo bem ali, naquela gaveta.

— Que maneiro, sempre quis ter um diário.

— Aquela gaveta ali tem tranca, aqui a chave. — Estendi a chave para que ela pudesse ver melhor. — Levo sempre comigo, nem a minha mãe sabe o que eu guardo ali, na verdade ela nem sabe que eu tenho um diário. Comprei todos com as minha economias.

— Mas ela nunca pergunta?

— Pergunta, mas eu nunca respondo.

"Olha Charlie, promete pra mim que você nunca vai contar isso a ninguém. É segredo hein, te contei porque você é a minha melhor amiga e eu sempre vou confiar em você."

— Eu prometo que não conto.

~Flashback~

Tem alguém tocando a campainha, deve ser ele.

Abri a porta e lá estava ele, entramos no carro e fomos até a cafeteria. Espero que essa garota ainda esteja usando o mesmo computador.

Joseph pediu emprestado o laptop e instalou o tal programa sem que ninguém visse.

Ele me explicou que conectou seu celular na rede do computador e quando ela entrar no tal site que da acesso ao blog, vai acionar o programa e a gente vai poder ir ao encontro e descobrir quem é essa pessoa.

Voltamos para minha casa e ficamos no meu quarto só esperando, ela posta todos os dias então provavelmente vá postar hoje também.

— Você acha que ela vai lá hoje? — Perguntei.

— Se não for, amanhã vai. 

— É, mas e se ela resolver que vai usar outro computador?

— A gente rastreia e chega até ela. Estamos perto. Não seja pessimista.

— Nada ainda né?

— Não, mas o computador acabou de ser ligado. A rede ta aberta, olha. — Ele me estendeu o celular para que eu pudesse ver.

— Espero que seja ela.

— É ELA!

Peguei o celular da mão dele e na tela estava escrito. ALERTA DE ENTRADA.

Saímos desesperados de casa, se ela está lá a hora é agora.

CONTINUA...