Capítulo 23 – But In The End, It Doesn't Even Matter

Correria. Essa era a palavra mais certa para descrever meus dias. Não tinha tempo para nada, passava em casa apenas para comer e tomar banho. Há dias que eu tentava entrar em contado com Demi, mas nunca conseguia, sempre acontecia alguma coisa e eu tinha que deixar pra depois.

- Joe? – minha chefa, Alice, interrompeu meus pensamentos.
- Pois não?- respondi educadamente.
- Tenho uma boa e uma má notícia pra você? – ela disse e adentrou a minha sala, sentando-se na poltrona a minha frente. –Qual você quer ouvir primeiro?
- Diga a boa, primeiro. – eu respondi, rindo brevemente daquela brincadeira infantil.
- Bem, a boa é que... – ela fez um pequeno suspense. – Nós conseguimos fechar negócio com os empresários da França!

Eu poderia explodir de felicidade naquele exato momento. Há dias que eu e Alice estávamos tentando fechar aquele negócio. Era o melhor contrato que a empresa assinaria em anos. Com esse contrato fechado, minha carreira só tendia a decolar ainda mais. Isso era bom demais pra ser verdade!

- Isso é incrível! – eu respondi sem esconder minha felicidade. – Mas, qual é a má notícia?
- A má notícia é que ficaremos sem nos ver por um tempo... – ela começou a dizer e deu suspiro de descontentamento. – Terei que ir à França tratar dos acertos finais.
- Isso é realmente uma pena! – eu disse rindo de canto.

Encaramo-nos por um minuto e não aguentamos, caímos na gargalhada. Alice era uma mulher linda, elegante, simpática e independente. Tudo o que um homem busca em uma mulher, ela tinha. Só possuía um defeito: era casada e muito feliz, por sinal.

Não que eu tivesse algum interesse nela, claro que qualquer homem fica atraído por ela, mas assim que fui promovido e a conheci, nos demos muito bem, como amigos. Ela me contava tudo sobre a vida dela e eu contava tudo sobre a minha inclusive sobre Demi.

 Nunca pensei que pudesse ser tão amigo assim de uma mulher, sem que tivesse segundas intenções de alguma das partes. O marido dela, Tom, era um advogado bem sucedido e incrivelmente legal. Sempre saíamos juntos para jantar, beber e jogar conversa fora. Enfim, éramos como amigos de infância.

- Bom, sem minha presença aqui, você pode ficar mais tempo em casa... Os problemas estão menores agora. – ela finalizou.
-Os seus estão, mas os meus devem estar enormes! – disse já começando a arrumar os papéis em cima da mesa.
- Demi, certo? – ela perguntou, cruzando as mãos em cima da mesa.
- Certíssimo. – respondi, enquanto colocava os papéis dentro da pasta. – Ela deve estar uma fera comigo!
- E com razão! – Alice disse de maneira autoritária. – Que espécie de namorado some por quase três semanas?
- Por sua culpa. – eu disse e ela riu brevemente.
- Se eu fosse ela, já teria arranjando um inglês lindo dos olhos azuis pra matar minha carência. – ela disse e riu da cara de desespero que eu fiz.
- Nem brinque com isso! – eu disse, sentindo uma pontada em meu peito.
- Bom, tenho que ir. – Alice disse pondo-se de pé e caminhando até a porta. – Ainda tenho malas a arrumar e um marido para cuidar.

Eu ri do comentário dela e acenei com a cabeça. Assim que fiquei sozinho naquela sala, o comentário de Alice sobre Demi voltou a ecoar em minha cabeça. E se Demi estivesse mesmo com outro cara? Sim, porque ela nem ao menos ligou pra saber como eu estava... O que poderia estar acontecendo pra que ela não me procurasse?

Sentei na cadeira, jogando todo o meu peso nela, era isso. Demi estava com outro. O medo tomou conta de todo o meu corpo e meu coração pareceu comprimir-se dentro do peito. Eu precisava falar com ela.

Peguei minhas coisas e saí voando da empresa. Eu tinha que chegar em casa o mais rápido o possível. Pisei fundo no acelerador e quase bati o carro umas três vezes. Em menos de dez minutos eu estava estacionando em minha garagem. Nem notei o carro parado em frente de casa, mas do outro lado da rua.

Entrei em casa e corri para o quarto, quando estava na metade da escada, ouço uma voz conhecida me chamar, me fazendo frear onde estava.

- Ei bro! – Nick estava parado no início da escada e me encarava com um sorriso no rosto.
- Nick! – sorri em resposta e desci as escadas o mais rápido que pude e corri para abraça-lo.
- Quanto tempo hein?! – ele disse durante o abraço.
- Demais! – sorri separando o abraço para que eu pudesse vê-lo melhor. – Você está enorme moleque!
- Malhação. Você devia tentar! – ele disse com ar convencido.
- Olha, eu ainda sou seu irmão mais velho e posso te dar uma surra! – eu disse enquanto dava um tapa no braço dele que riu em resposta. – Mas como você entrou aqui?
- A chave reserva que você deixou comigo quando comprou a casa, lembra? – ele disse tirando a chave do bolso e me devolvendo. – Espero que não se importe.
- Claro que não! – respondi, colocando a chave de volta na mão dele. – Pode ficar com ela, sempre que precisar ou quiser, pode vir pra cá!
- Joe, tem alguém que eu quero que você conheça. – Nick disse e sorriu meio sem jeito. – Amor, vem aqui.

Nick chamou alguém que estava na cozinha me fazendo olhar para aquela direção. Uma garota bonita, com cabelos castanhos e olhos verdes, veio caminhando até nós e parou ao lado de Nick que a abraçou pela cintura, depositando um selinho em seus lábios.

- Essa é a Nicole, minha namorada. – Nick disse de peito estufado e com um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Prazer Nicole, eu sou o Joe! – eu disse estendendo minha mão para cumprimentá-la.
- Eu sei, o Nick fala demais em você! – ela disse apertando minha mão.
- Espero que bem. – eu disse em tom de brincadeira, fazendo-a rir brevemente.
- Sempre bem. Acho que você é o irmão preferido dele. – ela disse piscando de lado e fazendo-nos rir.
- Por favor, não diga isso na frente do Kevin e do Frankie. – Nick pediu rindo e virou-se pra mim – Então, nós viemos te chamar pra sair, tá afim?
- Hm, é que eu ía fazer uma coisa agora...  – eu disse meio apreensivo.
- Ah... Tá! Tudo bem então... – Nick disse desapontado e isso me partiu o coração.

Havia tempos que não via meu irmão e éramos como unha e carne antes de eu sair de casa e agora ele estava ali, na minha frente, me apresentando uma pessoa que parecia especial e eu não teria tempo pra ele?

- Tudo bem, me dê apenas tempo pra tomar banho e trocar de roupa. – disse jogando minhas coisas em cima do sofá e correndo escada acima, sem dar a Nick chance de responder.

Entrei em meu quarto e fui direto ao armário separar a roupa que usaria. Escolhi uma calça jeans básica e uma camisa da manga com uma estampa qualquer. Tirei minhas roupas do corpo e fui para o banheiro, não demorei muito no banho e em quinze minutos, ou menos, eu estava pronto. Desci as escadas e vi que Nicole segura o meu celular nas mãos, antes que eu perguntasse o por quê, ela mesma explicou.

- Ligaram pra você e como você estava no banho e o Nick estava comendo eu atendi... – ela disse e me entregou o aparelho.

Verifiquei a bina e meu coração foi até garganta e pareceu querer sair de dentro de mim de qualquer jeito. Era o número da casa da Demi em Londres. Fitei Nicole com os olhos arregalados e, tanto ela quanto Nick pareceram se assustar com minha expressão.

- O que foi, bro? – Nick perguntou segurando em meu ombro.
- O que ela disse? – perguntei diretamente a Nicole.
- Bem, ela perguntou por você e eu disse que estava no banho, daí eu perguntei se ela queria deixar recado, mas parece que a voz do Nick a repeliu porque foi só ele perguntar quem era pra que ela desligasse o telefone – ela disse dando de ombros.
- Merda! – exclamei e minha primeira reação foi ligar para o celular dela.
- O que há de errado? – Nick quis saber.
- Sua voz é idêntica a minha ao telefone, lembra? – eu comecei a dizer trasbordando desespero. O celular só caía na caixa postal. – Junte a isso ao fato de que uma mulher atendeu meu celular, ela deve estar pensando merda!
-Ela quem? – Nicole perguntou, visivelmente assustada com a minha reação.
- Demi! – eu e Nick respondemos juntos.
- Cara, que merda! – meu irmão disse, passando as mãos pelos cabelos em sinal de nervosismo.
- O celular dela só cai na caixa postal e o telefone do apartamento tá deligado! – exclamei desesperado. Já era ruim quando havia mal entendidos entre casais, imagine entre casais que moravam a milhas de distância um do outro.
- Calma cara... – Nick tentou me acalmar.
- Não dá! Eu preciso falar com ela! – disse tentando, mais uma vez, o celular dela. Nada.

Meu coração batia forte e meu cérebro parecia trabalhar rápido demais. Eu andava de um lado para o outro na sala em busca de alguma solução imediata pra isso, mas nada vinha a minha cabeça. Até que uma luz se ascendeu.

Corri escada acima novamente e fui direto até o notebook. Uma eternidade depois, tempo que levou pra ele iniciar e eu conseguir acessar meu e-mail, abri minha caixa de entrada e lá estava. Um e-mail de duas semanas atrás com o título: Estou com saudades.

Meu peito se comprimiu e instantaneamente meus olhos se encheram de lágrimas que só aumentaram conforme eu lia o conteúdo do e-mail. Li e reli umas mil vezes, mas antes que pudesse responder e explicar o que tinha acontecido, um barulhinho irritante me avisou que havia um novo e-mail. Era dela, também.

O abri o mais rápido que pude, mas o conteúdo dele não era exatamente o que eu queria ler. Se pelo outro e-mail eu chorei por culpa e medo, nesse foi por desespero e angústia, pra não dizer, perda. As palavras dela eram doces, mas tal qual uma espada afiada, perfurava meu coração a cada significado. Era uma maneira, linda, porém dolorosa de dizer adeus.

Joe,

A melhor maneira de começar esse e-mail e dizendo: Obrigada por tudo! Todos os momentos vividos, todas as coisas compartilhadas e todos os sorrisos que você colocou em meu rosto, mesmo sem saber.
Desde o primeiro dia em que te vi, eu sabia que seria você e que seria pra sempre, mas eu estava errada. Nada dura para sempre e certas coisas não resistem aos inconvenientes da vida. Nosso amor é uma dessas coisas.
Antes de tudo, peço que não me julgue e que saiba que todo o ser humano tem o direito de buscar sua própria felicidade. Foi o que eu fiz. Eu encontrei alguém.
Há, mais ou menos, uma semana atrás fui a uma festa com Miley e conheci o Jay. Nós conversamos e acabamos ficando juntos nessa festa e o resto aconteceu como consequência. Ele é uma pessoa incrível e me trata muito bem. Acho que gosto dele de verdade.
Entendo se você passar a me odiar de agora em diante, mas nuca foi minha intenção fazer você sofrer ou qualquer coisa do tipo. Eu apenas quero você seja feliz e é por esse motivo que estou saindo da sua vida. Não me acho mais digna de permanecer nela tendo eu quebrado uma promessa que fiz a um tempo atrás de que iria voltar pra você.
Peço, por favor, não me procure. Vou mudar de número e vou excluir essa conta assim que enviar esse e-mail. Não será bom para nós. Tenho certeza que você ficará bem e rezo pra que seja muito feliz e sei que será.
Antes de terminar, quero que saiba que o que senti foi verdadeiro e que jamais me esquecerei de você. Estarei sempre ao seu lado, mesmo que você não me veja. Rezo pra que um dia você seja capaz de me perdoar e de perceber que o que fiz não foi por mal.
Uma última coisa, eu não pretendo voltar para os EUA.

Adeus,
Demi.


Não era real. Não podia ser real! Custei acreditar naquelas palavras e custei a entender o que ela queria dizer, pois minha mente recusava-se a entender aquilo como um adeus. Eu não podia tê-la perdido. Não podia!

Levantei da cadeira e tentei, em vão, ligar para o celular dela que sempre caia na caixa postal. O telefone do apartamento ainda estava desligando e o meu mundo parecia ruir à medida que minha mente começava tomar aquilo como verdadeiro.
Joguei o celular na parede e o vi cair no chão em pedaços, tal como eu estava naquele momento. Caí no chão aos prantos no exato momento em que Nick entrou no quarto.

- O que aconteceu? – ele perguntou, assustado.
- Acabou... – eu disse entre soluços e gemidos de dor, sim, de dor. – Eu a perdi.

Nick nada disse, apenas sentou ao meu lado e me puxou pra um abraço. A dor parecia esmagar meu peito não me deixando respirar, meus olhos estavam embaçados por causa das lágrimas e meu corpo estava mole. Era o fim. Não apenas do meu relacionamento com Demi, mas também o meu fim.

Continua...

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