quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Capítulo 28 - It's Like I'm Walkin' On Broken Glass


Acordei com os raios de sol batendo em meu rosto, as cortinas balançavam com o vento e uma brisa suave adentrava ao cômodo. Sorri pela sensação de plenitude que meu corpo estava experimentando. Abri os olhos levemente, ao mesmo tempo em que joguei meus braços para o espaço ao meu lado. Não encontrei nada. Despertei em um estalo pelo susto. Onde estava Demetria?

Levantei-me da cama e procurei minha boxer, que estava jogada próxima à poltrona do quarto. Andei pelo cômodo e procurei por toda a parte, nenhum sinal dela. Ela tinha mesmo ido embora? Caminhei de volta para cama e senti o vento acariciar minha pele novamente, fazendo com que eu desviasse minha atenção para a sacada.

Meu coração pareceu saltar e meu sorriso, de alívio, confesso, foi quase instantâneo. Ela estava lá, com uma das minhas camisas de botão, debruçada na sacada, seus cabelos dançavam no ritmo do vento e, eu podia ver em seu perfil, que ela estava de olhos fechados. A visão mais linda que meus olhos já viram.

Aproximei-me com cuidado e a abracei por trás, fazendo-a sobressaltar pelo susto. Demi abriu um sorriso ao me ver, gesto esse que imitei sem hesitar. Selamos nossos lábios de maneira calma, apenas para aproveitar. Eu mal podia acreditar que isso estava mesmo acontecendo. Depois de dois anos, ela estava ali, em meus braços.

- Senti tanto sua falta... – falei baixinho no ouvido dela.
- Foi por isso que veio até aqui? – ela perguntou no mesmo tom.
- Na verdade não... – eu respondi sorrindo e afastando-me um pouco para que pudesse a olhar nos olhos. – Vim a trabalho.
- Então o que estava fazendo em pub, senhor trabalhador... – ela disse com olhar inquisidor.
- Não tinha nada pra fazer, resolvi me distrair... – respondi dando de ombros.
- Quando volta? – perguntou de modo mais sério.
- Amanhã à noite. – respondi no mesmo tom de seriedade.

O silêncio ocupou o lugar e chagava a machucar nossos ouvidos, mas todas as palavras que foram omitidas, puderam ser lidas em nossos olhos. Demi me abraçou forte e eu retribui do mesmo modo. Era bom demais tê-la ali... Bom demais para ser verdade...

- Vem, vamos pedir nosso café da manhã. – eu disse puxando-a pela mão.

Não demorou muito para chegar. Comemos em silêncio. De certa forma estávamos desconfortáveis um com o outro. Tanta coisa aconteceu nesse tempo em que estávamos separados, tantas coisas mal resolvidas e tantas perguntas que deviam ser respondidas... Esperávamos só a oportunidade certa.

Terminei de comer e fiquei observando a garota a minha frente, melhor, a mulher a minha frente. Demi havia crescido e não só aparentemente, tenho certeza que ela deve estar mais madura do que sempre foi. Continuava linda! Cada traço, perfeitamente desenhado, do rosto dela, o jeito delicado de se portar, de falar... Perfeita como sempre! Não pude evitar o sorriso que se formou em meus lábios enquanto a admirava.

- O que foi? – Demi perguntou meio sem graça.
- Nada. Apenas olhando... – eu disse, ainda com o sorriso bobo no rosto.
- Tá me deixando sem graça assim. – ela disse, corando levemente.
- Não acredito! Demetria Lovato com vergonha?! – exclamei em um tom de surpresa exagerada, fazendo-a rir. – Londres opera milagres, por acaso?
- Para com isso, Joe! – ela disse entre risos.
- Repete... – eu pedi, fazendo-a parar de rir e me olhar confusa.
- O quê? – ela perguntou, unindo as sobrancelhas em sinal de dúvida.
- Meu nome. – respondi, olhando intensamente para os olhos dela.
- Joe! – ela disse sorrindo.

Fechei os olhos e respirei fundo. Deus, como eu havia sentido falta disso! Como havia sentido falta dela! Minha Demi! Levantei, calmamente, e fui até ela, estendi minha mão em sua direção e a puxei para cima, colando-a em meu corpo. Demi pareceu fraquejar com nossa proximidade, pois se agarrou firmemente em meus braços.

Nosso contato visual era intenso e dizia muita coisa. Levei minha mão até seu rosto e o contornei com a ponta dos dedos e a vi fechar os olhos lentamente. Com o dedo indicador, desenhei o contorno dos lábios rosados e entreabertos de Demi, fazendo suspirar pesadamente. Com a outra mão pousada em sua cintura a puxei para mais perto, fazendo, assim nossos corpos quase fundirem-se.

- Você tem noção do quanto senti sua falta? – perguntei em sussurros, próximo à boca que eu mais desejava no mundo.
- Deve ter sido tanto quanto eu... – ela respondeu, ainda de olhos fechados e em um sopro de voz.
- Acho difícil... – eu disse e Demi abriu os olhos e franziu o cenho.
- Por que? – ela perguntou. – Acha que não senti sua falta?
- Não é bem assim, é só que... Bom, não fui eu quem escolheu passar por isso. – soltei, um pouco mais sério.

Senti Demi afastar-se de mim e me olhar de um jeito diferente. Um misto de dúvida, tristeza e incredulidade. Mas o que eu havia falado demais? Era a mais pura verdade. Foi ela quem escolheu me esquecer, terminou tudo por um e-mail, me apagou do mundo dela e curtiu feliz sua estadia em Londres enquanto eu definhava por ela lá nos Estados Unidos.

- Você fala como se pudesse ter sido diferente, foi você quem me deixou vir, esqueceu? Bastava uma palavra sua e eu teria desistido de tudo pra ficar com você! – ela exclamou de um jeito magoado.
- Eu não podia na época, você sabe! Eu pensava que o filho que a Ashley esperava fosse meu! Não podia abandonar meu filho! – disse em tom de obviedade, cerrando os olhos.
- Mas e depois, me fez acreditar que poderíamos ficar juntos, mesmo longe e que me esperaria voltar, mas não foi bem isso que aconteceu! – ela disse, colocando as mãos na cintura.
- Como não foi? Demetria, eu te espero há DOIS ANOS! – eu vociferei, quase com raiva.
- Bela maneira de esperar, saindo com toda a população feminina da nossa cidade! – ela disse irônica.
- Olha quem fala! Não fui eu quem enviou um e-mail pra você, dizendo que estava namorando outra! – disse tão irônico quanto ela.
- Fiz isso por você! – ela praticamente gritou a frase.
- Por mim? Por favor, Demetria, você ofende minha inteligência assim! – exclamei, passando as mãos pelos cabelos, nervoso.
- Pensei que ficaria melhor sem mim. – ela disse em tom mais baixo.
- Como pode pensar uma coisa dessas? Como pode tomar decisões por mim? – perguntei indignado.

Demi não respondeu nada. Incrível como estávamos tão bem e de repente encontrávamos em meio a uma briga. Necessária, mas ainda assim, uma briga.

- Você não sabe como eu fiquei, você não sabe o que eu sofri, quantas noites passei chorando feito um imbecil naquela maldita sala de balé enquanto você se divertia com seu namorado! – eu disse, liberando toda a mágoa que havia guardado em meu peito.
- Você fala como se tivesse sido fácil pra mim! – ela respondeu, secando algumas lágrimas que rolaram pelo rosto.
- E não foi? Afinal, você ainda está com o cara não é?! Dois anos! – eu disse e senti as primeiras lágrimas darem o ar de sua graça.
- Foi o único modo que achei de esquecer você, de seguir em frente! – ela disse entre soluços.
- Então não me condene por ter feito o mesmo! – respondi de modo sério, quase frio.
- Não estou! – ela gritou e colocou as mãos no rosto para esconder o choro, mas os soluços e o balançar de seu corpo a condenavam.

Por mais que me doesse vê-la daquele jeito, era necessário colocar tudo pra fora, caso contrário, isso acabaria com nós dois.

- Eu amo você! – eu disse em tom mais baixo. - Por Deus, como eu amo você!

Demi tirou as mãos do rosto e me olhou de modo surpresa, como se o que eu disse fosse algum tipo de novidade.

- Mesmo depois de tudo e de tanto tempo, eu amo você! – repeti, abrindo os braços em sinal de rendição.
- Joe... Eu também amo você! – ela respondeu quase sem voz.
- Então... Volta comigo quando eu for embora? – perguntei esperançoso.
- Eu... Não posso... – ela respondeu depois de ponderar por alguns segundos.
- Porque não? – perguntei de um jeito que a fez dar um passo pra trás.
- Meus estudos, Joe... Cheguei à metade agora, não posso simplesmente abandonar tudo! – ela disse de um jeito suplicante. Como se implorasse para que eu a entendesse.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Andei devagar até um sofá próximo e joguei meu peso em cima da superfície fofa. Alguma coisa me dizia que estava prestes a perdê-la novamente.

- Acho melhor eu ir embora...- ela disse e caminhou na direção de suas roupas, começando a trocar-se em seguida.

Eu não tinha forças para impedi-la, então só a observei. Quando Demi estava pronta, levantei e caminhei até ela. Era a última tentativa. Abracei seu corpo por trás e soltei minha respiração pesadamente em seu pescoço, fazendo-a fechar os olhos.

- Por favor, não vai embora, fica aqui comigo. – eu pedi baixinho no ouvido dela.
- Pra que, Joe? Pra nos torturarmos mais? – ela disse e virou-se pra mim. – Já não basta toda a tortura pela qual passamos?

Não respondi. Ela estava certa. Eu iria embora no dia seguinte e ela ficaria aqui por mais dois anos. Era demais para nós dois alimentar algo que não iria para frente. Pelo menos não agora...

Demi pegou sua bolsa e caminhou até a saída, parou antes de sair e virou-se pra mim mais uma vez.

- Eu adorei te encontrar. Foi a melhor coisa que me aconteceu desde que cheguei aqui! – ela disse e sorriu tímida.
- Se... Você mudar de ideia... – eu comecei a dizer, mas fui interrompido por ela.
- Não vou mudar de ideia, Joe, não insista! – ela disse decidida – Espero que encontre alguém que te faça esquecer-se de mim ou que pelo menos o ajude a passar pelos momentos difíceis, como Jay tem me ajudado. – ela disse e saiu antes que eu pudesse responder.
- Isso será impossível... – disse para mim mesmo.

Era difícil aceitar que eu a tive e a perdi em um espaço de poucas horas. Deus! Quando isso tudo teria um fim? Quando eu deixaria de amá-la? Quando deixaria de doer tanto? Joguei-me na cama totalmente acabado. Em pensar que eu ainda tinha uma reunião de negócios para enfrentar... Em pensar que esse era o menor dos meus problemas...

Continua...

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