Capítulo 24 - I'm Not A Girl, Not Yet A Woman

Demi’s POV

- Acorda dorminhoca! – Miley gritava a plenos pulmões enquanto puxava meu pé.
- Miley... Me deixa dormir... – eu disse manhosamente. – Hoje é domingo!
- Mas é um domingo especial! – ela disse, agora sentada ao meu lado e tirando o lençol de cima de mim. – Não é todo dia que se faz 18 anos né?!
- Não precisa me lembrar disso... – eu disse fazendo uma careta, ainda de olhos fechados.
- Pode parar! – ela disse e levantou da cama indignada – Esquematizei todo o dia pra que ele fosse inesquecível e você está atrasando tudo!

- Esquematizou foi? – perguntei abrindo um apenas um olho.
- Foi! – Miley disse cruzando os braços. – E a essa hora devíamos estar tomando nossos cafés na Starbucks*.
- Isso é muito animador. – eu disse sorrindo, ainda com a cara enfiada no travesseiro.
- Dez minutos, Demetria! – Miley disse, caminhando até a porta. – Nem um minuto a mais!

Resmunguei algo como um “tudo bem” e juntei toda a força de vontade que eu tinha para conseguir levantar da cama naquela típica manhã de domingo londrina. Para mim era como um dia normal, há muito que aniversários já não tinham a mesma graça pra mim.

Fazer dezoito anos pode ser emocionante, quando se tem por que comemorar e eu, definitivamente, não tinha. Estava longe de casa, dos meus amigos, dos meus pais, longe do Joe... Sim, Joe. Ele ainda ocupava boa parte dos meus pensamentos mesmo depois de tudo.

Fazia muito tempo desde aquele e-mail, muito tempo sem contato algum, tudo o que sabia é que ele continuava morando no mesmo lugar. Por noites a fio eu me perguntei se o que tinha feito era o certo, me perguntei se não fui precipitada, mas a resposta era sempre a mesma: foi melhor assim.

Eu tinha plena consciência que Joe devia me odiar agora, mas foi por ele que fiz isso. Joe merecia viver ao lado de alguém que realmente o fizesse feliz e realmente pudesse dedicar-se a ele. Era injusto demais fazê-lo sofrer com a distância, com minha falta de tempo e com minhas complicações.

- Já tá pronta? – Miley perguntou entrando no quarto.
- Estou sim. – eu disse, conferindo os últimos detalhes no espelho.
- Então, vamos! O dia hoje será longo, minha querida! – Miley disse enquanto descíamos as escadas.

Saímos de encontro ao vento gélido que machucava o rosto a cada rajada. Eu já estava acostumada com o clima, isso não e castigava mais. Caminhamos até a Starbucks mais próxima e pedimos nossos cafés.

- Então, eu posso saber qual é a programação especial? – perguntei, enquanto esperávamos nossos pedidos.
- Claro! – Miley disse sorrindo. – Depois do café, vamos comprar seu presente e fazer compras extras, depois cabelereiro e por fim, festa!
- Festa? – perguntei rindo do jeito que Miley dizia, parecia uma criança.
- Festa sim! – ela disse e deu o primeiro gole no café que havia acabado de chegar. – Já está tudo acertado. Liam e Jay estão me ajudando.
- Liam e Jay? – perguntei cerrando os olhos.

Miley concordou com a cabeça, pois estava com a boca cheia de cookies. Eu ri e me concentrei em meu próprio café. Liam era o quase namorado de Miley, eles tinham uma relação estranha, um dia estavam juntos e no outro Miley estava no pub agarrando todos. Eles se gostavam, do jeito torto deles, mas se gostavam.

Quanto ao Jay, nos saímos algumas vezes e, confesso, tentei esquecer Joe ao lado dele, mas não passaram de tentativas frustradas. Jay era um cara super legal, me tratava muito bem e gostava de mim, mas o problema era eu. Sempre seria eu.

Terminamos o café e fomos em direção ao shopping. Como toda garota, Miley era apaixonada por compras e acabou me infectando com esse vírus também. Não posso negar que comprar era altamente relaxante e terapêutico e, tendo Miley como companheira de compras, era certeza de divertimento.

Entramos e saímos de várias lojas, experimentamos infinitas roupas e sapatos e andamos mais do que se estivéssemos em uma maratona. No fim, compramos alguns pares de sapatos e algumas roupas entre vestidos, blusas e etc...

- Vamos estrar aqui. – Miley disse apontando pra uma loja cujos manequins da vitrine, ostentavam vestidos lindos.
- Ai, My eu estou esgotada. Já não compramos coisas demais?  - perguntei manhosa. Eu estava realmente cansada.
- É a última, prometo. – ela disse, já entrando na loja e não me deixando outra escolha se não segui-la.

A loja tinha vestidos lindos, daqueles que deixa qualquer mulher enlouquecida. Um, em especial, me chamou a atenção. Ele era branco, com as alças presas no pescoço e a saia era formada por várias folhas de tecido que caiam uma por cima da outra, pra quebrar o branco do tecido, um cinto fino na cor preta marcava a cintura. Simples, mas realmente lindo.

- Experimenta. – Miley disse quando chegou ao meu lado e me viu admirar o vestido.
- Melhor não, vou acabar estourando meu limite do mês desse jeito. – disse fazendo uma careta.
- Não custa nada ver como fica em você. – ela disse sorrindo e chamando uma vendedora.

Quando vi, já estava com o vestido no corpo e admirando-me no espelho. Ele caía perfeitamente em mim, como se tivesse sido moldado ali. Nunca me senti tão bem em uma roupa como estava me sentindo dentro daquele vestido.

- Morreu aí dentro? – Miley disse batendo na porta da cabine. - Então, gostou do vestido? – ela perguntou assim que abri a porta.
- Parece que foi feito pra mim! – eu respondi com os olhos brilhando.
- Vai ser perfeito pra festa mais tarde. – Miley completou.
- Seria perfeito. – eu a corrigi – Se eu tivesse dinheiro pra comprá-lo, mas não é esse o caso.

Miley fez uma careta de decepção e saiu da cabine para que eu colocasse minha roupa novamente. Entreguei o vestido a vendedora ainda dentro da cabine, quando saí Miley já me esperava na porta da loja.

Do shopping, partimos para o salão de beleza. Horas e mais horas gastas com cabelos e unhas, parecia que eu estava de volta ao meu dia de debutante, quando os meus pais organizaram uma festa incrível e memorável pra mim. Eu estava genuinamente feliz, apesar de tudo.

Chegamos em nosso apartamento exaustas! Só conseguia me perguntar como iria ter energia pra uma festa que, sendo organizada por Liam, Jay e Miley, só deveria acabar quando o dia já estivesse amanhecendo.

- Já vou começar a me arrumar e aconselho a senhorita a fazer o mesmo. – Miley disse enquanto ia em direção ao quarto dela.

Respirei fundo e fui de encontro a ducha de água morna que parecia acalmar todos os músculos tencionados do meu corpo. Assim que saí do banho, ouvi meu celular tocar.

- Alô? – atendi segurando o celular em uma mão e minha toalha, enrolada no corpo, com a outra.
- Filha! – minha mãe gritou do outro lado. – Oh, meu amor, mamãe ligou para lhe dar os parabéns! Nem credito que minha filhinha tá fazendo 18 anos... O tempo passa tão rápido.
- Obrigada mãe! – agradeci sorrindo, por mais que ela não pudesse ver, eu sabia que ela me imaginava assim toda a vez que ligava pra mim.
- Seu pai quer falar com você, espera um pouco. – ouvi uns barulhos estranhos pelo telefone, mas logo escutei a voz do meu pai do outro lado da linha.
- Parabéns minha princesa! – ele disse e já tinha a voz embargada. Apesar de ser um homenzarrão, Sr. Eddie era uma manteiga derretida.
- Obrigada pai! – eu disse, sem conseguir esconder a emoção.
- É o primeiro aniversário que você passa longe de nós... – ele disse com a voz triste.
- Não pensa assim... – eu disse tentando evitar que as lágrimas viessem – Eu sempre estarei com vocês, meus pensamentos sempre estarão em vocês.
- Oh, minha linda! Se você soubesse a saudade que sinto... – meu pai já chorava a essa altura.
- Eu também sinto uma falta enorme de vocês, pai... – eu ainda lutava contra as lágrimas.
- Não vejo a hora de você voltar pra cá, pra sua casa, pro seus pais... – meu pai disse com a voz mais controlada.

Fechei os olhos com força, deixando assim que as lágrimas caíssem de uma vez. Eu ainda não tinha contado aos meus pais que pretendia ficar na Inglaterra.

- Filha? – meu pai chamou, depois do meu minuto de silêncio. – Você ainda está aí?
- Estou sim, pai. – eu respondi, depois de respirar fundo.
- Olha, como não podemos entregar o presente pessoalmente, depositamos uma quantia a mais em sua conta, assim você pode comprar o que quiser por ai... – ele disse meio sem jeito, aliás, ele nunca teve jeito pra essas coisas.
- Não precisava, pai, mas... Obrigada! – respondi, sorrindo.
- Ah, antes que eu me esqueça, o Jonas desejou parabéns pra você. – meu pai disse naturalmente, sem imaginar que aquela notícia não tinha nada de normal pra mim.
- Foi? – perguntei, tentando esconder o nervosismo – E como foi que ele soube do meu aniversário?
- Comentei com ele hoje de manhã, antes dele e da... – meu pai fez uma pausa e senti meu coração pular dentro do peito. – Bem, acho que namorada dele, saírem.
- Como assim o senhor acha que é namorada dele? – perguntei, sentindo minhas mãos tremerem e minhas pernas fraquejarem.
- Depois que se separou da Ashley, ele aparece cada semana com uma mulher nova por aqui, parece que ele tá curtindo a vida de solteiro. – meu pai comentou rindo, mas o máximo que consegui fazer foi engoli em seco.
- Pai, eu preciso desligar, meus amigos estão preparando uma festa pra mim e eu tô meio atrasada. Pode dizer pra mamãe que a amo e que sinto muita falta dela? – disse, tentando esconder o nó que havia se formado em minha garganta.
- Claro, filha, eu digo sim. Divirta-se na festa e juízo hein?! – meu pai disse e logo encerramos a ligação.

Ele estava aproveitando a vida de solteiro, como meu pai disse. Joe estava curtindo a vida, como eu queria, sendo feliz, como eu desejava, mas então, porque doía tanto?! O choro foi inevitável, e o aperto no peito se fez presente assim que minha mente, masoquista, formou a imagem de Joe com outras mulheres.

Nesse instante Miley entrou o quarto com uma caixa nas mãos, mas largou-a assim que viu meu estado. Sentou ao meu lado na cama e me abraçou de lado.

- Hey, o que foi? – ela perguntou carinhosamente.
- Meu pai... Ligou...  – disse entre soluços.
- Oh, meu bem, eu sei como a saudade pode machucar, mas vai ficar tudo bem... – ela disse fazendo carinho em meu ombro.
- Não vai não... Está tudo errado e só tende a piorar... – eu disse, ainda soluçando bastante, devido ao choro.
- Piorar? Do que você está falando? – ela perguntou, franzindo a testa.
- Joe... – disse em um fio de voz.
- Ah não, Demetria! – Miley disse com a voz elevada e levantou-se da cama, prostrando as mãos na cintura. – Não me diga que você vai ficar choramingando por causa dele no dia do seu aniversário, por favor né?!
- É difícil, My... Tenta me entender! – disse, tentando controlar a cachoeira que caía pelo meu rosto.
- Foi você quem quis assim, agora aguenta! – My disse decidida. – Ele tá vivendo a vida dele,  não era o que você queria? Agora viva a sua também!

Respirei fundo e concordei com a cabeça. Miley estava certa, foi eu quem quis assim, fui eu quem mentiu pra vê-lo feliz e agora que ele estava, finalmente, vivendo a vida dele, era a hora de viver a minha. Tentar, ao menos, ser feliz.

- Você está certa, vou começar a me arrumar! – disse levantando-me da cama e indo em direção ao armário de roupas.
- Assim que se fala, garota! – Miley disse rindo. – Espera, tenho que te entregar seu presente.
- Ah, My, não precisava... Você já está organizando tudo isso pra mim e ainda me dá presente?! – disse pegando a caixa que ela me entregava.
- Claro, que precisava! E para de chatice que eu sei que você vai amar! – ela disse com a expressão ansiosa no rosto.

Desfiz o laço que rodeava a caixa e tirei a tampa, quando retirei de cima o papel de proteção não acreditei no que vi. Era o vestido branco que parecia ter sido feito pra mim!

- My, você não existe! – eu disse em uma mistura de surpresa e felicidade. – Muito obrigada! Você é a melhor amiga que uma garota pode ter e não só pelo presente e pela festa, mas por tudo, tudo mesmo!
- Não precisa agradecer, meu anjo, você merece! – ela disse e eu a abracei. Miley era realmente uma amiga e tanto, quase irmã. – Vista-se pra festa, tenho certeza que você vai arrasar.

Depois que Miley saiu do quarto, comecei a me vesti para a festa, escolhi um sapato preto de salto que combinava com o vestido perfeito e algumas joias. Fiz um peteado simples e uma maquiagem que marcava bem os olhos e na boca um batom nude.

A campainha soou bem na hora que estava fazendo os ajustes finais em meu look. Claro, que só poderia ser Liam e Jay vindo nos buscar para a tal festa. Fomos todos no carro de Liam. Miley no banco da frente e eu e Jay, que não parava de me elogiar, no banco de trás.

A festa era em uma boate que tinha uma área reservada apenas para eventos, era lá que aconteceria minha festa de fato. Muitas pessoas já estavam lá quando eu cheguei, amigos do Royal, amigos de baladas e amigos da Miley e dos meninos. Com certeza a festa seria longa.

- Quer dançar? – Jay perguntou, estendendo a mão em minha direção.
- Como recusar um convite seu? – perguntei sorrindo e fazendo-o sorrir também.

Fomos para a pista de dança, onde tocava alguma música agitada que eu não conhecia, mas também não me importava. Jay segurou em minha cintura e me trouxe pra mais perto do corpo dele, sempre com um sorriso no rosto e os olhos, incrivelmente azuis, faiscando em minha direção.

- Como você pode ser tão linda? – ele perguntou, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- São seus olhos, literalmente... – disse rindo e ele fez cara de quem não entendeu. – É que eles são tão lindos que enxergam tudo da mesma forma.
- Boba! – ele disse e riu. – Daria tudo pra que você gostasse de mim só um pouquinho que fosse.
- Mas eu gosto de você, Jay! – disse, sentindo meu corpo tencionar com o rumo da conversa.
- Não do jeito que eu preciso que goste, não o suficiente pra namorar comigo e me deixar te fazer feliz... – ele disse de um jeito tão verdadeiro que me fez suspirar.
- Jay, eu não quero magoar você, eu não posso assumir um compromisso agora... – eu disse, enquanto fazia carinho no rosto dele, que tinha a barba por fazer.
- Você tem alguém lá nos Estados Unidos? – ele perguntou de olhos fechados, sentindo meu carinho. – Porque se for, eu vou entender...

Senti meu estômago embrulhar e uma vontade súbita de sumir dali. Jay abriu os olhos devagar pra me encarar e a única coisa em que eu pensava era em Joe. Ele estava feliz certo? Estava curtindo a vida e tentando encontrar a pessoa certa, porque eu não poderia fazer o mesmo?

Jay era perfeito, o namorada que toda a garota sonharia em ter e era apaixonado por mim e já havia demonstrado isso várias vezes. Por mais que minha resposta inicial fosse outra, as palavras que saíram da minha boca, nunca me pareceram tão verdadeiras.

- Não tem ninguém me esperando nos Estados Unidos. – ao ouvir o que disse, Jay abrir o mais lindos dos sorrisos.

O que veio a seguir era o que toda a pessoa sensata faria. Nossos lábios encostaram-se em uma dança de pura provocação, até, enfim, se chocarem um no outro, de maneira urgente, porém delicada. Entreguei-me àquele beijo, como nunca tinha feito depois de Joe, como se aquilo fosse minha única salvação. Talvez realmente fosse.

Continua...

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